Os fatos no caso do Sr. Valdemar

Tenho que começar com uma citação. É com os dois parágrafos abaixo, traduzidos pelo Google, que a história começa:

“Não acho surpreendente que o extraordinário caso do Sr. Valdemar tenha provocado discussões. Teria sido um milagre se não fosse assim – especialmente nessas circunstâncias. Com o desejo de todas as partes envolvidas de manter o caso longe do público, pelo menos por enquanto ou até que tivéssemos mais oportunidades de investigar, (…) relatos distorcidos ou exagerados abriram caminho na sociedade. Eles se tornaram a fonte de muitas deturpações desagradáveis ​​e, muito naturalmente, de muita descrença.

Agora é necessário que eu apresente os fatos – tanto quanto eu os compreendo. De forma resumida, são estes:”

E nesse ponto começa de fato a história do Sr. Valdemar, como contada por Edgar Allan Poe em 1845. O caso é descrito na Wikipédia de forma também vaga: ‘“o enredo ocorre com personagens críveis, cujas ações podem ser reproduzidas (com exceção, é claro de Sr. Valdemar), assim como o pano de fundo em que a história se desenvolve, que é realista. Essa ‘sobriedade’, no entanto, converge no resultado fantástico que é o arco do Sr. Valdemar”.

No curso de jornalismo nos ensinam que qualquer primeiro parágrafo que sirva para mais de um texto não é um bom primeiro parágrafo, não é um bom lide. Textos genéricos são uma espécie de abominação assustadora para os jornalistas contemporâneos.

Mas Allan Poe não é contemporâneo – nem jornalista. Meus velhos professores chamariam sua abertura de “nariz de cera” que é como se insultava esses tipo de texto nos meus tempos de faculdade. E, nariz de cera à parte, Poe está lá: voltando à nossa memória o tempo todo, em histórias de vingança, de loucura, ou apenas em histórias que têm um Valdemar no título.

A propósito, a desse conto tem muito pouco a ver com a do Valdemar atualmente no noticiário. O Valdemar do conto está à morte, é mesmerizado e, por isso, fica em um estado vegetativo: morto, como ele mesmo diz mas, ainda assim, capaz de responder perguntas.

Bom, talvez as histórias acabem tendo alguma coisa em comum. Vamos ver se o Valdemar atual, politicamente morto, vai falar alguma coisa sobre seu caso.

Escultura em homenagem a Edgar Allan Poe (divulgação)
Allan Poe, não Valdemar.