O fim está próximo?

Sob o sol carioca de 40 graus, a menina da Unicef se aproxima para pedir dados de cadastro para doações mensais. Sorrio e digo: “Já falei com vocês.” Ela sorri de volta. Este é o jeito menos indelicado que encontrei para dizer: “desculpe, não posso assumir mais compromissos.”

Desvio, depois, dos Médicos sem fronteira, que têm seus cadastradores doações perto da Rua Sete de Setembro. Na Av. Rio Branco – em pé sob os andaimes de um prédio em reforma – uma menina com canetas e chaveiros olha para mim: “Eu estou levantando dinheiro para…” (confesso, já não lembro mais a causa nobre). Compro uma caneta: R$ 5,00.

O estranho nisso tudo é que, quanto mais vejo o presidente do IPEA dizer que está tudo melhorando, que o país nunca esteve tão bem, mais vejo pessoas nas ruas pedindo dinheiro, mais vejo pessoas indo ao médico com novos problemas crônicos, mais as vejo não dando conta da rotina de trabalho. Tenho a sensação de que tudo pode desabar de uma hora para outra.

Não, eu não tenho nenhum número para “provar” a tese. Na verdade nem tenho uma tese: é só uma sensação de queda, uma espécie estranha de mal estar.

Começo, de algum jeito, a entender os malucos que saem com cartazes de “o fim está próximo” em filmes da Sessão da Tarde.

Esperando pelo fim.

Esperando pelo fim.

Uma resposta em “O fim está próximo?

  1. Fui parado por outra menina da Unicef, uma mais insistente.

    O “já falei com vocês” não a convenceu, então completei:

    – Não posso assumir mais compromissos agora.

    Ela rebateu:

    – Que é isso?! Ninguém está te pedindo em casamento não.

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